quarta-feira, 19 de junho de 2013

Ervilhas, princesas, e o que trago à mesa


Hoje, quase Verão em Portugal, o tempo anda tão incerto quanto o futuro de muitas famílias.

Depois de levados durante anos a desprezar a poupança e a gestão comedida, inebriados pela girândola de cartões dourados e créditos fáceis que pareciam não ter fim, redescobri ao regressar há meses um país acabrunhado, angustiado, pronto a desertar para paragens menos sombrias.

Por já cá andar há algum tempo, vi alternar ciclos de grande desafogo e vida muito mais contida. Depois das causas abraçadas na adolescência, o trabalho pelo mundo demonstrou-me que os pequenos gestos são a minha medida de contributo.

E no meio da aflição de muitos que vejo à minha volta, algumas luzinhas de esperança se acendem por quem se bate jogando mão de criatividade e imaginação para aproveitar da melhor forma possível as oportunidades do dia a dia.

Não, não se trata da pechincha que a amiga mais desembaraçada comprou nos saldos privados daquela marca famosa, e de que se gaba na página do Facebook.

Nem do excelente negócio das férias tropicais compradas à última hora.

Trata-se de um movimento crescente de partilha das pequenas soluções que cada um vai arquitectando para fazer face às dificuldades do quotidiano, e todos os dias surgem novos blogs onde se publicam dicas, truques, receitas imaginativas para "esticar" o rendimento.

Gente anónima - até há pouco habituada a, sem pensar duas vezes, gastar num par de sapatos o orçamento de um mês de supermercado - pesquisa e divide informações sobre promoções, descontos, compara preços, e do dia para a noite se torna herói/heroína da blogosfera, com milhares de acessos, likes, comentários e seguidores fiéis.

De súbito, descubro uma vitalidade, uma alegria na forma como generosamente cada um comunica, sem complexos, os seus "achados" quotidianos. Que me deu vontade de acrescentar um bago de ervilha a esta vagem que se quer gordinha, através de uma das coisas de que mais gosto: cozinhar.

Hoje nasce a Ppod.

P de Poupada, Peadpod de Vagem de ervilha em que juntos fazemos mais.

Homenagem à "ervilhinha" que a minha filha era no meu ventre, hoje a desabrochar em flor aromática e cheia de cor como as ervilhas-de-cheiro do quintal dos meus pais.

Homenagem a quem me contou histórias antigas de bagos de ervilha e princesas - de delicada pele que, por mais que sejam os colchões empilhados, não fica insensível ao pequenino alto criado pela modesta ervilha.

Não há colchões que nos tornem insensíveis ao sofrimento, às dificuldades de quem nos rodeia. E a esta mesa, cada um é chamado a trazer o que tem.

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